sábado, 8 de janeiro de 2011

Velho amigo desconhecido.

Dizem que amigos são aqueles que estão por perto quando você precisa, que depois da farra te agüentam e te consolam. Neste caso, a melhor amiga de Renato deveria ser a privada daquela merda de boteco. Por vezes terminava lá, vomitando o uísque barato e o que restava de sua tão frágil dignidade.

Levantava com esforço e olhava-se no espelho. Tinha nojo do próprio reflexo, nojo da vida que levava. E pensar que um dia sonhou conhecer as belas praias do sul da França, "de l'Hexagone". Um sonho que se desfez tão rápido como gelo em água fervente.

Expulso do bar, sentia-se expulso de casa. Um menor abandonado com fome. Ou melhor, com sede de uísque barato diluído na água.

Só, no meio da noite, perambulando pela rua deserta, acendia seu Hollywood com um isqueiro Bic. Dava uma bela tragada e soltava a fumaça pelas narinas. Levou um puta susto quando um carro em alta velocidade passou.

Passava a mão no rosto, seu tato não estava tão apurado. O álcool ainda tinha seu efeito. E talvez por isso avistava um vulto ao longe. E conforme caminhava, conforme se aproximava, o vulto debaixo de uma luz com mal contato começava a ganhar forma. Um homem alto, cabelos pretos, óculos escuros - quem diabos usa óculos escuros no meio da noite? -, terno preto, gravata com estampa de borboletas, gel no cabelo e com fones de iPod nos ouvidos estava sorrir para Renato.

- Eaê, camarada, tudo na paz? - disse o homem.

- Desculpe, mas quem é você? - indagou Renato.

- Sou um velho amigo que você esperava há algum tempo.

O homem de terno pôs o braço sobre os ombros de Renato, dando dois tapinhas amigáveis e caminhando junto com ele.

Ao olhar para trás, Renato via algumas pessoas se aglomerando. Pensava que a rua estava deserta, mas alguns moradores de casas e clientes de alguns bares estavam acordados. De repente, uma luz vermelha e o som de sirene de ambulância.

- Acho que aconteceu alguma coisa... - comentou Renato.

- Deixe, não foi nada demais. Só um bêbado que foi atropelado. Acidentes de trânsito são cada vez mais comuns.

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Texto com um personagem meio antigo que raramente uso, não faz muito meu estilo mas é gostoso de escrever sobre ele. Para entender melhor, clique aqui.

5 comentários:

PerpLife - PerLusion disse...

Amigo ou colega que apareceu na hora certa? Muita coincidência.

Lucas Adonai disse...

como de costume, os textos desse blog são bem intenso.
Acho que você leva jeito para textos assim.
abraçs.

Loverocklive disse...

Será que ele já estava morto ?

Parabéns pelo texto.

Natália Nunes disse...

Selo. Pode publicar ou só guardar p/ vc.
http://refugiodiario.wordpress.com/2011/01/09/interferir-x-aconselhar/

Parabens, seu blog é ótimo!!

Unknown disse...

GOSTEI MUITO DESSE CONTO, CARA!

TEM ALGO MEIO BUKOLSKIANO E RODRIGUIANO NELE!!! GOSTO DISSO!

E ESSE PERSONAGEM, O RENATO, É BEM INTERESSANTE!

GRANDE ABRAÇO,
www.vemaquinomeublog.blogspot.com