sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A vida é assim, meu cumpade

Agora sem ficção, sem texto querendo falar algo nas entrelinhas, apenas o papo reto.

Pode-se dizer que já passei por muitas coisas nessa vida, mesmo com apenas 18 anos de idade. Muita merda que fede pra caralho. Porque você só sabe que a merda fede quando se aproxima dela.

A vida não é colorida, com falso romantismo nem "felizes para sempre". A vida é uma onda repleta de emoções, sensações, sentimentos, que de repente te dá um caldo e você não sabe onde vai parar. E ela é curta. Curta até demais, e começa a acabar no nascimento.

Tem que ter sangue no olho, não pode vacilar. Porque na vida real não tem santo, não tem papai do céu que ajude na hora que o bicho pega. É cada um por si. Tem os parceiros, os irmãos. São raros, mas quando aparecem, são os únicos em que podemos confiar. Que podem nos salvar. Conheço uns dois ou três assim.

Chega uma hora na vida que a gente sabe como a máquina funciona, que a gente vê, sente e faz coisas que acabam quebrando essas muralhas que o falso moralismo da sociedade nos impõe.

A gente só aprende com as cagadas que deixamos pelo caminho. Mas você tem que tá ligado e sair de cena antes que a bosta toda bata no ventilador.

Só não te abro os olhos pra essa vida porque eu já fechei os meus há muito tempo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um amor, ainda que amor

Em uma praia deserta, a brisa salgada acariciava os corpos sujos de areia. Um crime pervertido tendo a lua como testemunha. A paixão doentia, rendida pela recusa, a violência como um ato de amor. As lágrimas descendo pelo rosto, pele com pele, amor selvagem.

Os gritos levados pelo vento não chegavam a ninguém. Mas ela era linda, rosto de porcelana, longos cabelos loiros e os olhos da cor do céu. Possuía o cheiro da inocência. Inocência esta perdida por um amor descontrolado, enfurecido, mas mesmo assim um amor sincero e cauteloso. Um amor perigoso, sem razão. A emoção predominando em resposta à necessidade obsessiva daquilo que não se pode ter. Não da maneira correta.

Um amor que deixa marcas, que machuca. Que traumatiza. Mas um amor acima de tudo, mesmo que violento, ainda puro.

sábado, 18 de dezembro de 2010

O mal do século

A chuva cai, lavando a calçada, mas não minha culpa. Pois não há pecado pior que a inércia. Pecado tão pesado quanto sua punição, ainda em vida. E minha barba branca é prova de tão vil punição.

O fundo do copo me faz companhia, junto com as tristezas e as mágoas da vida. Minha alma se desfaz na mesa de um bar como o gelo se desfaz na dose de uísque barato. E meu último fio de dignidade se vai, junto com a fumaça do cigarro levada pela brisa noturna do verão.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Abandonado, desesperado.

Apenas de cueca, sentado na varanda do enorme apartamento com vista para o mar, Carlos observava a noite.

Mãos trêmulas, tentava inutilmente acender um cigarro. Não fumava há anos, mas naquele momento já não se importava muito com seus pulmões. O isqueiro sem gás não ajudava. Já havia bebido meio litro do seu melhor uísque, 18 anos, que há tempos guardava para uma ocasião especial. Julgava que a hora havia chegado.

Rico, com filhos bonitos e abandonado pela mulher. Precisava de coragem para aquilo. Sobre uma mesinha de vidro na varanda, uma arma antiga. havia sido de seu pai, da época da guerra. Estava carregada, funcionando.

O cano da arma tinha gosto de metal. Estava gelado, mas não havia problema. Apenas não queria errar o tiro.

As crianças acordaram com o disparo, começaram a chorar ao ver que o pai havia dado um tiro na própria boca.

Carlos acordou na UTI, tonto por causa dos sedativos. Iria sobreviver. O tiro pegou na espinha, estava tetraplégico. Mas feliz, tinha dado tudo certo. Agora sua esposa seria obrigada a voltar para casa e cuidar do marido.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Na cadência do samba

Como todo domingo, religiosamente, parava no bar. Sentava-se na mesma mesa de sempre e pedia uma cerveja. E o samba começava a ecoar pelo local, para a alegria de mulatas rebolando e alguns malandros sambando.

E logo chegava sua cachaça - com o limãozinho, senão faz mal -, um torresmo de tira-gosto. Para alguns, procurava no fundo do copo o fundo do poço, mas tudo o que procurava era uma razão para viver. Uma das boas, não uma qualquer. E o samba, a cachaça e o cigarro eram uma mistura não das mais saudáveis, mas daquelas que vale a pena seguir.

Maria, sua mulher, já estava cansada da vida boêmia do marido, assim como Aurora, sua filha. Mas ambas eram maiores de idade e vacinadas, trabalhavam e poderiam se sustentar.

A morte chega para todos, é fato. Mas não pode-se saber a hora nem o dia, apenas aproveitar o tempo que resta antes que ela chegue.

E no caso, já estava esperando ali. O pandeiro, o violão, o cavaco. O samba em sua cadência, a cuíca chorando e o coro das pessoas cantando. Tomou sua última dose da branquinha, fez careta e comeu um torresmo. Sorriu. Isso sim era felicidade. Só que começou a sentir aquela coisa no peito, quando caiu da cadeira chamou a atenção de alguns. Todos pararam. O samba silenciado, menos a cuíca, que continuava chorando a perda de seu amante.



(Baseado na música de mesmo título.)